sábado, 13 de fevereiro de 2010

Pancreatite crônica no gato - Diagnóstico

Gatos com pancreatite crônica não manifestam sintomas específicos. A grande maioria apresenta somente anorexia, letargia e desidratação, sendo pequena a porcentagem com vômitos e diarreia. Hipotermia também pode estar presente.

Um estudo recente revelou a presença de 67% de prevalência de alterações pancreáticas crônicas em gatos necropsiados, sendo 45% em gatos que eram aparentemente saudáveis antes de morrer! A prevalência clínica reportada, no entanto, não chega a 2%. A discrepância entre a prevalência de diagnósticos clínicos e laboratoriais sugere que muitos gatos têm pancreatite subclínica.

Diagnóstico

O ultrassom é um exame útil no diagnóstico, pode revelar pâncreas aumentado e hipoecogênico, circundado por mesentério hiperecoico e líquido peripancreático (peritonite focal) nos animais com pancreatite aguda, e pâncreas hiperecoico nos gatos com processos crônicos, mas a sensibilidade depende do ultrassonografista e frequentemente não aparece nada.

O aumento da imunoreatividade da lipase pancreática (fPLI) detecta a pancreatite felina com grande sensibilidade (principalmente pancreatite aguda, bem menos para a pancreatite crônica leve). Esse exame é feito pelo laboratório IDEXX nos EUA, sendo disponível no Brasil por intermédio de alguns laboratórios veterinários. (Em São Paulo, o Provet envia material para o exterior para realização de "perfil pancreático" (PLI e TLI).)

O aumento da imunoreatividade do tripsonogênico-like felino (fTLI) tem baixa sensibilidade.

Os testes de lipase e amilase séricas não servem para nada.

Outras alterações do gato com pancreatite crônica incluem leucocitose leve a moderada, com ou sem alterações tóxicas, e hematócrito aumentado (desidratação) ou diminuído (anemia). Pode haver azotemia leve a moderada, secundária e desidratação ou insuficiência renal. Aumento de enzimas hepáticas refletem isquemia hepática ou lipidose / colangite ("tríade" felina).

Histologicamente, a pancreatite crônica se caracteriza por fibrose intersticial com atrofia acinar e infiltrados linfocíticos. Já na pancreatite aguda aparece necrose e inflamação acinar, além de necrose da gordura peripancreática.



Referências

DeCock et al. Prevalence and Histopathologic Characteristics of Pancreatitis in Cats. Vet Pathol 44:39–49, 2007. Disponível em http://vet.sagepub.com/content/44/1/39.full#xref-ref-38-1 também.

Forman MA, Marks SL, et al. Evaluation of serum feline pancreatic lipase immunoreactivity and helical computed tomography versus conventional testing for the diagnosis of feline pancreatitis. Journal of Veterinary Internal Medicine 2004; 18: 807-815.

Marks SL. Diagnosis and Management of Feline Pancreatitis: A Critical Appraisal.
In: Western Veterinary Conference, 2010. Disp. em: http://www.vin.com/Members/Proceedings/Proceedings.plx?CID=wvc2010&PID=pr54695&O=VIN

Steiner JM. Diagnosing Feline Pancreatitis. In: British Small Animal Veterinary Congress, 2009. Disp. em: http://www.vin.com/Members/Proceedings/Proceedings.plx?CID=bsava2009&PID=pr32328&O=VIN

Steiner JS, Williams DA. Feline pancreatic disease. In: Ettinger, SJ; Feldman, EC. eds. Textbook of veterinary internal medicine. St. Louis: Elsevier Saunders, 2005; 1488-1492.

Pancreobela

Isabela está com tríade felina. Tem anorexia há 2 meses, além de pêlo arrepiado e humor deprimido. Teve um episódio de diarreia há cerca de 1 mês, mas foi só, pois não tem vômitos e seu cocô é normal. Só não come. Isso é muito comum na pancreatite felina, uma das doenças da tríade. Estava com enzimas hepáticas alteradas, e US sugestivo de alteração no fígado - lipidose hepática, devido à privação calórica decorrente da anorexia. Atualmente, somente o US do fígado ainda permanece alterado.

Tenho forçado ração úmida quando ela recusa a ração - um dos 4 tipos que comprei - e isso ocorre cerca de duas vezes a cada 3 dias.

A alimentação trata do fígado - e, de fato, as enzimas hepáticas foram diminuindo ao longo do mês de janeiro, e estão normais.

Por outro lado, comer lhe faz passar mal, pois induz a secreção enzimática pancreática o que, na pancreatite crônica, já está bem alterada.